Seu médico faz mesmo parto normal?
Muitos dizem que sim, mas, na hora H, acabam convencendo a paciente por uma cesárea. Outros realmente fazem parto normal, mas é de um jeito tão cheio de intervenções que o torna uma experiência dolorida demais: a paciente tem de ficar deitada de barriga para cima o tempo todo; aplicam uma substância que acelera as contrações mas as deixa mais doloridas, cortam o períneo sem necessidade, etc. Se você quer fugir disso, tente fazer algumas perguntas ao seu médico, para ter uma idéia da postura dele com relação ao parto normal. Acredite: nem todos estão dispostos a fazer um, mas poucos vão dizer isso claramente.
1. O que você acha melhor: parto normal ou cesárea? Por que você faria uma cesárea?
Deixe-o falar. Alguns revelam logo sua opção por cesárea. Ao menos é mais honesto do que dizer que vão fazer um parto normal e depois inventar uma desculpa. Então você pode decidir se isso serve ou não para você. Se não ficar satisfeita com a resposta, pergunte também para a secretária qual é a quantidade de partos normais e de cesáreas no consultório. Conversar com outras pacientes na sala de espera também ajuda.
2. Quantos partos normais você fez este ano? Quanto tempo duraram?
Se o médico souber dizer quantos e se, pelo menos em algum caso, ele esperou o parto acontecer, mesmo que demorado, é bom sinal. Outra forma de checar isso é ver se, ao longo dos vários meses do pre-natal, ele desmarca alguma consulta por estar acompanhando um parto. Tudo bem que pode ser incômodo, mas é uma garantia de que ele faz mesmo parto normal, algo que não acontece com hora marcada!
3. Quanto tempo você espera depois de completar 40 semanas?
Se não houver nenhuma tolerância, desconfie.
4. O que acontece na hora do parto, que procedimentos você usa?
Alguns médicos rompem a bolsa ou aplicam ocitocina para acelerar as contrações logo no início do trabalho. Muitos fazem, de rotina, um corte no períneo (episiotomia), sem avaliar se isso é realmente necessário. São indicações de que o profissional não tem paciência para esperar o parto desenvolver-se normalmente, o que pode demorar até 18 horas. Quanto menos intervenções desnecessárias, melhor.
5. Vou poder escolher a posição na qual me sentir mais confortável?
Ficar o tempo todo deitada, com as pernas para o alto, torna tudo mais dolorido. O peso do útero comprime a veia cava, localizada nas costas, o que pode provocar falta de ar para mãe e de oxigenação para o bebê. Cada mulher se sente melhor de um jeito: algumas andando, sentadas, de cócoras ou de quatro durante as contrações. A opção deve ser sua, não do médico.
6. Eu gostaria de saber mais, de ler e de fazer um plano de parto, dizendo como gostaria que tudo aconteça..
Se o médico for partidário dessa idéia, ótimo. Para alguém que incentiva o parto normal, quanto mais a mulher souber e estiver informada, melhor. Para ver modelos de planos de parto – um documento em que você indica suas opções – visite os sites indicados em um post anterior (Muita Calma nessa Hora).
7. Quanto tempo você espera depois que a bolsa se rompe?
Alguns médicos não gostam de aguardar nem um minuto e fazem cesáreas de emergência. Evidências científicas mostram que se pode esperar, desde que mãe e bebê passem bem. A maioria das gestantes entra em trabalho de parto em até 24 horas depois de romper a bolsa.
(Cópiado do Blog da Carol do bebe.com.br)
Bjokas
Dri
segunda-feira, 24 de agosto de 2009
Razões
Gente,
Fiquei vários dias sem postas nada no blog e agora venho com turbilhão de informações. Depois do meu parto passei por uns dias tristes. É o chamado Baby Blue, que nada mais é que uma descompensação hormonal que agride a mulher que acabou de parir. Acredito que para suportar a loucura do parto a hípofese trabalha que nem louca produzindo vários hormônios para ajudar a mulher a sobreviver aquela dor, a produzir leite e tb mais hormônio para as contrações uterinas. Desta forma nada mais justo que a dona hípofese tirar umas férias por uns dias para repor as energias né! Só que é nessa que nós mulheres que acabamos de parir temos que encarar as mudanças da vida com um novo membro da família e ainda com os níveis hormônais desajustados é uma montanha de emoções. Eu não queria nem sair da cama só chorava, nossa até eu fiquei com pena de mim rsrsr! Hoje dou até risada mais é triste de mais, parece uma tristeza que não tem fim. Nossa! Mas graças ao bom Deus passou e como não pretendo ter mais filhos acho que passou de vez mesmo! rsrsr!
Bem é isso só pra justificar porque andei tão distante da vida de blogueira.
Bjokas
Carinho
Dri
DEPOIMENTO DO PARTO ESCRITO DIA 08/08/2009
No inicio da minha gravidez um dos temas que mais me aterrorizavam era o parto. Morria de medo do Parto Normal e cheguei a pensar em fazer uma cesária. Mas depois de muito pesquisar sobre o tema decidi que queria um parto normal com anestesia. O médico que me acompanhava no pré-natal desconversava quando tentávamos (eu e meu esposo) tocar no assunto parto. Um dia, no oitavo mês, fui direta e perguntei se ele acompanhava Parto NormaL, ele então disse que PN não tinha como fazer, pois não dava para se programar e blá!blá!blá! Começou ai minha busca por um médico que fizesse PN, não foi nada fácil, mas em um curso de gestante na Unimed conheci meu médico Dr. Alberto Guimarães, ele acompanhou o fim da minha gestação com muita atenção e dedicação e esta dedicação se mostraram ainda mais no dia do meu parto. Na maternidade pedi anestesia ainda com três cm de dilatação, pois a dor foi muito intensa pra mim, mesmo na água, de cócoras, nenhuma das posições e exercícios nada amenizava a dor das contrações que eram muito freqüentes (de 1 em 1 minuto) com duração de 40 segundos. Logo após a anestesia o médico chegou ficou um tempão conversando conosco, nos acalmando. Passaram-se 10 horas de contrações e dores (só que com a anestesia elas se tornam suportáveis) até que minha bebê nasceu. Linda... Fofa as 41 semanas de gestação. Agradeço de mais a Deus, pois foi o momento mais lindo... Mais perfeito da minha vida... A plenitude existe e existiu na minha vida naquele momento. 40 minutos após o parto constatou se que tive retenção placentária (a placenta estava literalmente "colada" e não saia, passei por uma intervenção de curetagem de mais de 3 horas para removê-la. Mas estava totalmente feliz e satisfeita. Não cansava de agradecer ao médico que dedicou mais de 12 horas de seu dia para ajudar minha bebê a nascer.
O mais incrível é que depois do parto parecia que nada tinha acontecido, não sentia nenhuma dor... Nenhum tipo de desconforto. No dia seguinte já consegui colocar a cinta e vestir minha calça jeans e nem parecia que tinha ganhado bebê.
Hoje 9 dias depois do parto, meu corpo já voltou quase que totalmente ao que era antes de engravidar e estou ótima, e muito feliz de ter tido minha bebê de parto normal.
Mas ficou uma lição pra mim nisso tudo:
Esta experiência me ensinou muito... Muito mesmo! Não é o tipo de parto que torna a coisa mágica é o bebê que nasce que ilumina tudo, o tipo de parto é apenas um detalhe no meio deste processo e terceiro e que você não é menos nem mais mãe porque teve um Parto Normal ou Cesária, você será simplesmente mãe.
Bjokas a todas!
Adri
http://diariodeumanovamae.blogspot.com/
Quem tem medo de parto normal?
Sex, 21/08/09
por Isabel Clemente
A julgar pelas estatísticas, “muita gente” é a resposta correta ao título deste post. O número de cesáreas realizadas no país continua subindo ano após ano. Se, na rede privada, passa dos 80% dos partos realizados, na rede pública, onde o índice costuma ser bem mais baixo – mas ainda assim acima do razoável -, os partos cirúrgicos continuam a subir. Em 1998, 28% dos partos realizados em hospitais públicos foram cesáreas. No ano passado, o percentual estava em 33,25%, segundo o Ministério da Saúde.
Por que isso está acontecendo? A primeira consideração - que nos serve apenas de contextualização - é que se trata de uma tendência nos países industrializados, o que, no Brasil, fica mais patente nas grandes cidades.
Questionada, a coordenadora da área de Saúde da Mulher do Ministério da Saúde, Lena Peres, aponta várias questões relacionadas à baixa popularidade do parto normal. Listo abaixo as principais explicações dadas por ela:
- A cesárea é vista como um bem de consumo, tanto que ela acontece mais onde a coisa é paga (rede privada). Nem médicos nem hospitais querem perder tempo com o parto normal, que tem o seu próprio ritmo, nada industrial;
- A formação médica hoje no Brasil está muito voltada para os partos cesáreos porque é a realidade dos hospitais-escola. Quase todos são centros de referência para gestações de risco, o que, traduzindo em bom português, significa partos cirúrgicos, com dia e hora marcados:
- Muitos planos de saúde também costumam pagar mais aos obstetras pela cesárea – o que é um contra-senso, porque o profissional tem que se dedicar muito mais ao parto normal, em termos de disponibilidade;
- A desinformação da parturiente. Duas pesquisas – uma realizada em parceria pela Fiocruz com a Agência Nacional de Saúde, órgão responsável pela fiscalização e regulação dos planos de saúde no país, e outra pela Fundação Getúlio Vargas de São Paulo, ambas do ano passado – revelam, num universo de gestantes, que 70% delas gostariam de ter um parto normal, quando sondadas no início do pré-natal. Às vésperas de dar a luz, apenas 30% mantêm a preferência. Para Lena Peres, “ou é desinformação ou um processo de convencimento do profissional de saúde que as atenderam”.
11 de agosto, 19h - Estou com 41 semanas de gestação e me perguntam diariamente quando essa criança vai nascer. Parece que logo. Acabo de deixar o consultório da médica. Estou com 3 cm de dilatação sem ter sentido nenhuma dor. “Só faltam 7”, comemora o marido, exultante. Otimista, completa: “Quem sabe você chega a 8 sem sentir nada?”. Quem sabe, quem sabe. A médica pergunta se eu quero acelerar o processo com um “toque”. Eu, ela e meu marido nos entreolhamos. “Precisa?”, perguntamos. “Não tem nenhuma necessidade. Podemos esperar porque está tudo bem com vocês duas”, me responde ela. “Então deixa essa neném chegar na hora dela”. Fomos embora.
As cesáreas são um avanço da medicina moderna. Salvam vidas porque, em alguns casos, são a única opção. Mesmo quando não são a única opção, acabam sendo a escolha de muitas mulheres por motivos variados e, como toda escolha, implica trocas. Tem gente que prefere enfrentar uma hora na cadeira do dentista sem anestesia para não passar horas depois com a bochecha dormente. Conversei em certa ocasião com uma moça com síndrome do pânico. Naquela situação, ela achou mais prudente marcar a cesárea, temerosa de um ataque durante o trabalho de parto. As prioridades pessoais são inquestionáveis. É preciso dizer também que dor não é algo fácil de encarar, porque é intraduzível, incomparável e o limiar de cada um, um universo insondável. Somos treinados para buscar o prazer, o tempo todo. O que dizer da dor? Esse incômodo que parece nos tirar do eixo, de si, do confortável? Só não faz sentido acreditar na máxima de que “a dor do parto é a pior que existe”. Me pergunto se o autor de suposto conhecimento sentiu no próprio corpo todas as dores possíveis a ponto de compará-las. Não que seja uma delícia, mas não tem gestação sem sacrifícios. A mulher se transforma do início ao fim, ou melhor, ao pós-parto.
Médicos adeptos de práticas humanizadas no atendimento obstétrico defendem o parto normal, porque cirurgia sempre envolve certa dose de risco. Fora a questão da recuperação da mãe, mais fácil depois de um parto normal. Uma semana depois do parto, meu útero – que se distendeu por nove meses - não é sequer palpável.
12 de agosto, 3h – Na mesma noite, não consigo dormir. Eu e minha bebê estamos agitadas. Durmo às 4h para acordar quatro horas depois. Às 9h, percebo contrações ritmadas e aviso meu marido, por telefone, no trabalho. Ele volta e vamos para o consultório de novo. Às 11h30, a médica constata que já estou com 5 cm de dilatação. “Metade do caminho!”, comemoramos. Como diante da obstetra as contrações cessam, recusamos a proposta de fazer logo a internação. Eu queria tomar banho, almoçar… Vamos em casa e nos encontramos às 14h, pode ser?Combinado.
O excesso de cesáreas é preocupante do ponto de vista de saúde publica pelos gastos e riscos desnecessários. Custam mais aos hospitais públicos e respondem por índices lamentáveis, como o de morte materna a elas associadas e a prematuridade. Bebês tirados antes do tempo estão mais sujeitos a doenças respiratórias. “Dos cinco casos de morte materna registrados este ano na Paraíba, até maio, quatro estão relacionados à cesárea”, diz Lena, do Ministério da Saúde. “O Brasil é um dos campeões em morte materna, é um absurdo”, diz.
A França, por exemplo, onde o índice de cesáreas (18% dos partos) está bem abaixo do brasileiro, voltou a incentivar o parto domiciliar, numa tentativa radical de tirar dos hospitais os nascimentos de gestações sem risco. A hospitalização dos partos é um processo recente na história da humanidade e, na opinião de estudiosos, tem a ver também com o movimento feminista que bateu de frente com preceitos perpetuados pela religião, como o de que as descendentes de Eva estavam condenadas a sofrer para colocar seus filhos no mundo. Quando surgiram drogas capazes de jogar por terra o tal do sofrimento, a solução já estava dada. Vamos parir, sem dor! Foi o pontapé inicial para um processo de hospitalização do parto e de afastamento das parteiras, rotuladas a partir de então como pessoas inabilitadas. O documentário The Business of Being Born aborda essa questão. O filme alterna depoimentos de médicos, parteiras e, entre uma informação séria e outra, mostra a encenação cômica de um parto em que os médicos, sempre muito durões, gaiatos e decididos, dizem para a parturiente: “você não está qualificada para fazer isso. Deixe com a gente!”
12 de agosto, 13h. Com muita pena, desisto de comer o estrogonofe. Os intervalos das contrações não são suficientes para eu mastigar e engolir. Sempre fui lenta para comer. Enquanto minha filha mais velha se arruma para ir à escola, corremos com bolsas e documentos para a porta. Aviso o que está prestes a acontecer. “Que beleza, mamãe! Ela vai chegar hoje!”, reage minha primogênita à notícia de que a irmã está para nascer. “Mal posso esperar para ver a carinha dela…”, diz a pequena. Saio de casa com aquele sorriso na memória, enquanto a minha memória também se encarrega de me lembrar como isso dói. No caminho, também abolimos a ideia (de jerico) de passar no caixa eletrônico. Na porta do hospital, esbarramos na burocracia. Não me deixam ir para a maternidade enquanto não preencher as guias de internação. Falta carimbar, registrar, selar, telefonar, rotular. A mulher da recepção me diz que “está tentando ajudar”. Lembro do carimbador maluco do Plunct Plact Zum, que não queria me deixar ir a lugar nenhum. “Escuta, estou em trabalho de parto, avançado, preciso subir!”. Como resposta, me perguntam o CEP, depois de fazer a mesma pergunta pro meu marido ao meu lado. “Você tá falando sério? O CEP!!??? Você não pode copiar a ficha dele na minha? Ela perguntou o meu CEP???”, reajo, perdendo a paciência. Ando de um lado para o outro como uma onça enjaulada.
Alguns mitos acabam estimulando e sustentando a necessidade de cesárea, mesmo quando ela é perfeitamente dispensável, na opinião do obstetra Frederico Coelho, de Brasília. O mais comum é que “uma vez cesárea, sempre cesárea”. “Não é verdade. O cuidado que se tem é não usar hormônios artificiais para estimular as contrações porque, com o estímulo, as contrações vêm mais fortes do que o normal, o que pode representar uma ameaça para um útero que já foi suturado”, explica. Outro mito é o da lesão vaginal. “O músculo dessa região é próprio para fazer esse esforço”, diz Lena, do Ministério da Saúde. Eu acrescento mais um dado que ajuda a construir no imaginário de várias gerações de mulheres o pavor do desconhecido porque eu tinha esse medo: as novelas adoram cenas de mulheres em trabalho de parto sofridíssimos, sendo empurradas numa maca como se estivessem a caminho da morte. Eu tinha esse medo e descobri que a informação é o melhor antídoto contra uma imaginação destrutiva. “Se a paciente não quer o parto normal de jeito nenhum, não fico dando murro em ponta de faca. A gente tenta trabalhar o medo, mas nem sempre funciona”, diz a obstetra Rachel Reis.
12 de agosto, passam das 13h30. Já sem condições de andar, sento um tanto contrariada numa cadeira de rodas. Se não tivessem me retido por tanto tempo na entrada, eu tinha ido a pé. Estou num elevador, cercada por pessoas estranhas, sendo empurrada por um dos seguranças igualmente estranho porque meu marido ficou lá embaixo respondendo às perguntas da carimbadora maluca. Quando a contração chega, seguro a vontade de pegar na mão de alguém e me lembro que não estou num avião caindo, mas indo dar a luz. Ponho uma cara de paisagem e fecho os olhos. Quando encontro minha médica, as dores já estão fortes à beça (aqui, o leitor pode substituir o “à beça” por uma “locução adverbial de palavrão” para ser mais fidedigno ao que eu quero realmente dizer). Passo para uma maca e sou empurrada por um corredor sem fim. Não acredito que estou numa maca.
Passo por um senhor deitado em outra maca e constato que ainda devo estar longe do meu destino. Definitivamente, ele não tinha um bebê na barriga. Dou um sorrisinho e aceno para ele antes de ser atacada por uma nova contração. Ouço as enfermeiras conversando atrás de mim com voz engraçada de criança. “Ô meu Deus, o que houve?”, diz uma. “É neném…neném querendo nascer!!”.
- É seu primeiro?, uma pergunta.
- Não, a segunda.
- O primeiro também foi normal?
- Sim – digo, com um sorriso no rosto.
- Eu também tive dois de parto normal. É a melhor coisa, me diz ela.
- Melhor coisa, melhor coisa…
No centro obstétrico aparece finalmente meu marido. Como é bom tê-lo ao meu lado. A doula – uma fisioterapeuta treinada em saúde da mulher que me deu assistência também antes e durante o parto (saiba mais sobre doulas). Sento numa bola de pilates e tento relaxar. Deu certo. A médica e a doula me lembram que a contração é uma onda, já está indo embora… A doula começa uma sessão de acupuntura e me surpreendo com uma contração suportável. Vai funcionar, comemoro em pensamento, mas quase arranco o antebraço do meu marido na contração seguinte. “Cadê o anestesista?”, apelo. Minha médica – uma mulher experiente e doce que ainda por cima passou por três partos normais, sendo um sem anestesia – me lembra que falta muito pouco. “Tem certeza? Eu acho que você aguenta, Bebel”. Eu aguento? Talvez, talvez, mas não vou ter tempo de mudar de ideia daqui a pouco… O homem aparece. Quando ele me avisa que, mesmo depois de me anestesiar, ainda sentirei duas contrações fortes e que ainda por cima não posso me mexer durante o procedimento (cujos detalhes tento não imaginar para não impedi-lo de fazer), titubeio. Valerá a pena? Faço uma confissão final tentando transferir para a comida a decisão que eu temia tomar: comi um pouco de estrogonofe. “Não tem problema”. Então vamos nessa.
Meu primeiro parto normal não foi nada fácil. Da primeira contração ao nascimento, levei mais de 24 horas acordada. O cansaço me marcou mais do que as dores em si. Saí da experiência, no entanto, convicta de que faria tudo de novo e certa também de que, a partir daquele momento, eu seria capaz de tudo na vida. Teria sido acometida da tal amnésia pós-parto? Dizem também que é uma dor que a gente esquece. Bem, eu lembrei delas rapidamente já no elevador.
A poucos minutos da chegada da minha segunda filha, a analgesia fez efeito, sem que eu perdesse o controle da situação. Continuei dona da história, protagonista daquele momento. Sorri. Vi meu marido do meu lado e nosso amor em forma de gente sair de dentro de mim.
O Ministério da Saúde deu início a um programa de reciclagem médica para treinar os profissionais do Sistema Único de Saúde em parto normal. São 24 horas intensivas de curso, já ministradas no Distrito Federal e no Rio de Janeiro. A partir de 2010, as universidades também serão obrigadas a garantir um mínimo de treinamento em parto normal dos médicos em formação. Independentemente do tipo de parto, o que me incomoda são histórias de mulheres que nunca terão a certeza sobre a necessidade da cesárea por que passaram quando estavam dispostas a enfrentar o parto normal. Conheci uma moça que estava sendo acompanhada por cinco obstetras porque nenhum deles lhe garantiu que desmarcaria as pacientes dos consultórios para acompanhar um parto sem data marcada. As estatísticas mostram que a maior parte dos bebês nascidos em hospitais privados chega de segunda a sexta, no horário comercial. No dia 12 de agosto, até as 14h30, cinco bebês tinham nascido no hospital onde estávamos. Só o meu parto tinha sido normal.
13 de agosto, 18h – À tarde, deixamos o hospital. Ao pisar do lado de fora do prédio, protegi minha filha do vento seco e quente daquela tarde no Planalto Central. O céu estava azul claro e eu continuava com a sensação de entupimento nos ouvidos, como se estivesse congestionada por um resfriado. Talvez pela força que fiz no parto. Enquanto esperava nosso carro, vi uma moça carregando o seu “pacotinho”. Sorrimos uma para a outra em cumplicidade. Independentemente do parto que tivemos, vivíamos certamente um mesmo sentimento: nossa aventura com aquele filho estava apenas começando.
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