
Ricardo Herbert Jones
Médico Ginecologista e Obstetra
   HUMANIZAR (AURÉLIO) 
[De humano + -izar.]
[De humano + -izar.]
   V. t.    d.  
1. Tornar humano; dar condição humana a; humanar.
2. Tornar benévolo, afável, tratável; humanar.
3. Fazer adquirir hábitos sociais polidos; civilizar.
4. Bras. CE Amansar (animais).
V. p.
5. Tornar-se humano; humanar-se
1. Tornar humano; dar condição humana a; humanar.
2. Tornar benévolo, afável, tratável; humanar.
3. Fazer adquirir hábitos sociais polidos; civilizar.
4. Bras. CE Amansar (animais).
V. p.
5. Tornar-se humano; humanar-se
      Recentemente em acalorada discussão com um professor de obstetrícia da    minha originária faculdade de Ciências Médicas me deparei com um fato    que me pareceu digno de aprofundamento.    
   Este    insigne professor foi autor há alguns meses de um artigo em um jornal    local de grande circulação a respeito da criação de Casas de Parto no    Brasil. O artigo era a respeito de "Maternidade Segura" e tratava do    assunto pela conhecida ótica médica que discursa exaustivamente sobre a    questão da segurança. Neste artigo ele tenta demonstrar o perigo de se    criar Casas de Parto porque "nunca se pode ter certeza de que um    nascimento seja isento de risco", terminando com uma acusação ao    Ministério da Saúde afirmando que este tipo de "experiência" só serve    para fazer economia às custas da segurança dos pacientes. Citava lugares    do mundo onde os partos são exclusivamente hospitalares e "esquecia-se"    de citar locais como a Holanda onde mais de 30% dos partos se situam    fora dos hospitais e sob o cuidado de parteiras.    
   Quando    fui aluno deste professor sempre me chamou a atenção a sua postura    intervencionista, tecnológica, seu posicionamento claramente favorável    às abordagens científicas e técnicas do parto e sua especial simpatia    pela obstetrícia americana. Alguns anos antes, ao candidatar-se a cargo    eletivo na Cooperativa Médica local, calcou sua plataforma médica na    questão do combate aos "profissionais alheios à medicina" que estariam    exercendo atividades na obstetrícia, numa alusão clara à atividade das    enfermeiras obstétricas. Colegas me relatavam que no seu plantão no    Hospital da Universidade ele proibira que enfermeiras da graduação    realizassem qualquer tipo de atendimento obstétrico.   
   Bem,    nada disso é surpreendente. Estas coisas todas eram do meu conhecimento.    Sabia que ele como professor de obstetrícia reproduzia todo um arcabouço    filosófico que sustenta e embasa o proceder ritualístico da obstetrícia    contemporânea. Entretanto o que me deixou espantado é que nossa conversa    iniciou-se com a seguinte frase por ele pronunciada: "- Dr, as coisas    que aqui serão discutidas nada tem a ver com sua posição em relação à    Humanização do Nascimento, até porque sou claramente favorável a ela."   
   Quando    o meu honorável professor proferiu esta sentença eu fiquei pensando:    existe alguma coisa que não está bem explicada a respeito da humanização    do nascimento. Se este professor considera-se um defensor do Parto    Humanizado, sendo que ele é o responsável técnico de uma maternidade que    tem 80% de cesarianas, que trabalha como professor de obstetrícia e    forma os obstetras que vão trabalhar posteriormente nesta mesma    maternidade (e o faz há mais de 20 anos), escreve e discursa contra as    Casas de Parto e não aceita o atendimento de obstetrizes em partos de    baixo risco, o que sou eu então?    
      Percebi que existe muita confusão conceitual nesta área, e que se    quisermos realmente modificar estas questões temos que definir    claramente qual a nossa proposta de modelo, o que queremos dizer com    humanização, quais os nossos objetivos e as nossas metas. Assim como a    discussão do "normal e natural", a discussão do "humanizar" faz-se    necessária, sob pena de colocarmos em um mesmo saco gatos, cães, lebres,    coelhos. Não é admissível que "humanização" torne-se um chavão vazio,    como tantos outros que conhecemos, em que todos o utilizem sem a menor    responsabilidade e sem ter consciência exata do que estão tratando.    
   O    QUE É HUMANIZAÇÃO DO PARTO   
Existe um movimento no mundo inteiro no sentido de reforçar estas teses. Aqui no Brasil temos a Rede pela Humanização do Parto e Nascimento que é nossa principal ferramenta de aglutinação de profissionais de várias áreas interessados na modificação do atendimento à mulher no ciclo gravido-puerperal. Entretanto percebo que ainda não possuímos uma definição concreta e precisa do que entendemos por humanização, a ponto de um médico que me parece claramente um "intervencionista" tradicional auto-proclamar-se "humanista". Porque?
Existe um movimento no mundo inteiro no sentido de reforçar estas teses. Aqui no Brasil temos a Rede pela Humanização do Parto e Nascimento que é nossa principal ferramenta de aglutinação de profissionais de várias áreas interessados na modificação do atendimento à mulher no ciclo gravido-puerperal. Entretanto percebo que ainda não possuímos uma definição concreta e precisa do que entendemos por humanização, a ponto de um médico que me parece claramente um "intervencionista" tradicional auto-proclamar-se "humanista". Porque?
   Na    minha ótica, (e desde já pretendo colocar que se trata apenas de um viés    absolutamente pessoal e que apenas pretende iniciar um debate sobre a    questão) quando abordamos este assunto temos que compreendê-lo na sua    origem, nas raízes, fugindo tanto quanto possível da pueril    superficialidade que aparece aos nossos olhos. O equívoco que a mim    parece evidente nas palavras do meu professor é que ele não tem    conhecimento do que seja o projeto de humanização no seu sentido amplo e    profundo.    
   Quando    ele fala em humanizar está se referindo a tratar com mais gentileza e    "humanidade" as pacientes nos Centros Obstétricos; refere-se a uma    abordagem menos agressiva e mais racional do manejo das internações.    Porém eu considero humanização do nascimento algo muito mais profundo do    que isso. Vai além de fazer um centro obstétrico mais arejado,    enfermeiras e atendentes sorridentes ou colocar vasos de flores nos    quartos.    
      Humanização do Nascimento tem a ver com a posição em que a    cliente/parturiente ocupa neste cenário. Neste sentido humanizar tem a    ver com feminilizar. Enquanto o nascimento for manejado de forma    masculina ele nunca será verdadeiramente humanizado. É inadmissível que    um fenômeno tão intrinsecamente feminino seja gerenciado por    pressupostos tão marcadamente masculinos! Se a paciente se mantém como    objeto, como indivíduo passivo, como alguém sobre a qual recaem as    forças cegas e desorganizadas da natureza, necessitando por isso um    cuidado intensivo no sentido de salvá-la do seu destino cruel, então nem    1 milhão de flores, rosas, jasmins, cravos, orquídeas e nem milhares de    sorrisos benevolentes tornarão este parto um parto humanizado.    
   O que    torna um parto humanizado, ao contrário do manejo alienante que    encontramos nas nossas maternidades, é o protagonismo conquistado por    esta mulher. A posição de cócoras, a presença do marido/acompanhante, a    diminuição de algumas intervenções sabidamente desnecessárias, o local    do nascimento, etc. não são suficientes para tornar um nascimento    "feminino e humanizado". É necessário muito mais do que isso.    
   Não    existe humanização do nascimento com mulheres sem voz. É preciso que    esta mulher, consciente da sua posição como figura central no processo,    faça valer seus direitos, sua autonomia e seu valor. O que torna um    obstetra (ou profissional do parto) humanista ou não, é a capacidade de    estimular a participação, o envolvimento efetivo e a condução deste    processo a quem de direito: a mãe. Sem estes requisitos de nada adiantam    maternidades lindas, belas, arejadas, limpas, assépticas, com    enfermeiras gentis e sorridentes.    
   Usando    como exemplo a questão prisional, uma penitenciária não se torna humana    simplesmente varrendo as celas e oferecendo roupas limpas aos detentos.    Nem tampouco com carcereiros gentis e sorridentes. Ela se torna humana    se a lei é bem aplicada, se não ocorre injustiça na aplicação das penas,    se os presos tem os seus direitos respeitados.    
Desta    forma, muito mais importante que a humanização da forma, é necessário    instituir a humanização dos conceitos. É fundamental construir uma visão    nova, que resgate este protagonismo perdido pela tecnocracia dogmática e    fechada do cientificismo religioso. Sem este delineamento do que    concebemos por humanização ficaremos todos tratando por um mesmo termo    conceitos completamente diversos.Enfim, o projeto de humanização do Parto e Nascimento inicia-se por uma definição clara do que entendemos por "humanizar", para que a partir de conceitos firmes e sólidos possamos construir um modelo mais justo e adequado para as mulheres, sua família e seus filhos.
http://www.humpar.org/humanizacao_parto.htm


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